quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tenho o sonho de vir a ser Forcado...

Sou natural de Coruche, frequento o 12º ano e pretendo ingressar no Ensino Superior no próximo ano lectivo. Tenho o sonho de vir a ser Forcado e de envergar a jaqueta do Grupo de Forcados Amadores de Coruche, com o qual tenho vindo a treinar desde o início da temporada transacta.
Conjuntamente com 7 colegas representei Portugal na 60ª Sessão Internacional do Parlamento Europeu dos Jovens, que decorreu entre 17 e 26 de Abril em Estocolmo, na Suécia - resultado de consecutivas vitórias nas Sessões Regional e Nacional. Liderados pelo Professor Álvaro Mayer, fomos seleccionados no início do presente ano lectivo de acordo com critérios como o de bom desempenho enquanto estudantes e facilidade nas línguas estrangeiras.
No dia seguinte ao da chegada, tive a oportunidade de me fardar de Forcado numa mostra dos fatos tradicionais de cada país. A partir dessa noite, dois sentimentos tornaram-se meus companheiros de jornada e não mais me largaram durante os extraordinários momentos que passei em solo escandinavo: Orgulho e Responsabilidade. Orgulho de representar a Vila de Coruche, o Ribatejo e um país de diversas realidades e tradições riquíssimas como o nosso e de envergar a jaqueta do Grupo da minha Terra num país tão distante, tendo como certo que ao fazê-lo estava pronto para assumir a responsabilidade de defender e promover a Festa dos Toiros perante mais de 200 jovens de 32 países. E assim foi: tudo começou nessa noite marcante, quando a timidez das primeiras horas desvaneceu-se à medida que dirigiam elogios à indumentária do Forcado, e mesmo sabendo pouco ou nada sobre o seu papel na Corrida de Toiros à Portuguesa, com verdadeiro entusiasmo me abordavam em busca de respostas às suas dúvidas e prosseguiam com interesse redobrado após a primeira explicação. As confusões com o procedimento seguido nas Corridas de Toiros do país vizinho foram uma constante que me preocupei em clarificar; enumerei as diferenças face à cultura de Toiros vigente em Espanha, de forma a destacar as nossas especificidades. Como seria de esperar, a acutilância das questões colocadas aumentava na directa proporção da minha eloquência enquanto transmissor da identidade luso-ibérica. E os pedidos de fotografias multiplicavam-se.
Não há dúvida que as Corridas de Toiros estão hoje na ordem do dia a nível internacional: não passou dia algum sem que um jovem deputado(a) ou organizador da Sessão me procurasse de modo a trocarmos pontos de vista, interrogar acerca de terminologia específica ou simplesmente para me dar a conhecer os seus argumentos - nos corredores do hotel, nas pausas para Café ou Almoço e mesmo no decorrer das actividades que principiavam ainda madrugada em Portugal e acabavam lá pela hora de jantar.
Nos últimos dois dias da nossa estadia em Estocolmo (aqueles sobre os quais incidiram mais fortemente os holofotes mediáticos e as expectativas dos participantes) realizou-se a Assembleia Geral, a parte do programa mais aguardada em cada Sessão Internacional. Estavam em discussão 15 moções propostas por 15 comités direccionadas para temas da actualidade europeia como a crise económica, os direitos humanos, o comércio internacional e as alterações climáticas. Outra das moções indagava acerca do respeito pelos direitos dos animais e apontava o dedo às Corridas de Toiros, comparando-a com experiências científicas efectuadas com animais vivos no Reino Unido pelo facto de ambas ignorarem os direitos dos animais. Antes de mais, de referir uma salutar diversidade de argumentos utilizados na defesa das Corridas de Toiros. Por outro lado, aqueles que estavam contra limitaram-se a exprimir frases que apelavam à compaixão e recusavam qualquer tipo de dor infligida aos animais, pelo que defendiam a extinção das touradas. E foi precisamente em reacção a um apelo à abolição de qualquer actividade que provoque dor aos animais, que usei da palavra: primeiramente aludi à ignorância evidente em grande parte dos detractores do que se passa numa Corrida de Toiros pela simples razão de que nunca assistiram a nenhuma; referi a importância de acreditar na sustentabilidade das tradições através dos séculos e demonstrei à Assembleia o simbolismo e a amplitude da Festa dos Toiros em Portugal, mas lembrando Espanha, França e México. À validade dos ” meus” argumentos ou ao empolgamento verdadeiro que existe quando se julga estar a protagonizar uma acção meritória na defesa de tudo o que nos é mais intrínseco, o auditório respondeu com ovação.
Esta viagem foi uma oportunidade privilegiada para perceber que a continuidade das nossas tradições depende sobretudo da força com que nos fazemos ouvir e da capacidade de aceder a canais privilegiados. Para além disso, é necessário fomentar o intercâmbio de conhecimentos e pessoas para que possamos criar condições para reunir consensos - espero com esta minha experiência ter dado um contributo para a divulgação da nossa Tauromaquia, de um Portugal rural que se quer ao nível dos desafios do século XXI e que se deve diferenciar por ser sinónimo de uma identidade ímpar no Mundo, criador de ecossistemas singulares, de Toiros e de Toureiros, e não significado de assimetrias ao nível do desenvolvimento regional.


João Mendes

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